por Tarcisio Dias*
Prezados amigos da coluna Mecânica Online, tudo bem? Os últimos dez dias no setor automotivo brasileiro foi um verdadeiro showcase de tecnologias que, para além do brilho do lançamento, sinalizam as rotas estratégicas e o futuro do mercado nacional.
Observamos um movimento de pinça: a eletrificação se consolidando no segmento premium e a Inteligência Artificial (IA) se tornando o novo campo de batalha na eficiência do transporte de cargas, sem esquecer a ofensiva nos SUVs compactos, liderada agora pelo renovado Honda WR-V.
No peso pesado, a Volvo Caminhões deu um lance altíssimo com a introdução do I-Torque na linha FH 2026. Não se trata de apenas mais um motor potente; é a Inteligência Artificial assumindo o volante da eficiência.
O I-Torque eleva a gestão do torque ao nível de um "motorista virtual" especialista, lendo topografia e carga para garantir força máxima em subidas, ao mesmo tempo que reduz o consumo em até 3%.
Em um país continental como o Brasil, onde o custo do diesel dita o preço de tudo, essa economia percentual é um diferencial competitivo brutal. Enquanto concorrentes como a Scania ou a DAF investem em suas próprias soluções de eficiência e conectividade, a Volvo com o I-Torque e o aprimoramento do I-See avança na integração full-time da IA, dificultando a vida de quem tenta desbancar o FH da liderança de sete anos no segmento. A Volvo não está só vendendo caminhões, está vendendo redução de TCO (Custo Total de Propriedade).
Paralelamente, a sustentabilidade ganhou uma solução pragmática e Made in Brazil com a parceria Tupy/MWM e PepsiCo. A conversão de caminhões a diesel para biometano é a antítese do luxo elétrico, mas é o que o Brasil precisa agora.
É a economia circular aplicada ao transporte. O mercado de caminhões 100% a gás, como os oferecidos pela Scania, é excelente, mas exige um alto investimento inicial.
A solução da MWM, o retrofit, é um atalho de menor custo para a descarbonização. Ela permite às transportadoras reduzirem suas emissões em até 95% (com biometano) e cortarem o custo operacional, prolongando a vida útil de ativos já depreciados.
É uma estratégia de ESG com retorno financeiro imediato, algo que as grandes frotistas estão exigindo.
Passando para a pista, o BMW Group Brasil celebrou três décadas de sucesso com a maturidade de sua estratégia: a abertura tecnológica. Enquanto rivais como a Mercedes-Benz ou a Audi também aceleram na eletrificação, a BMW se diferencia por não colocar todos os ovos na mesma cesta.
Eles não só foram pioneiros na eletrificação com o i3 em 2014, como agora produzem o BMW X5 PHEV (híbrido plug-in) localmente em Araquari.
Este marco, premiado como "Inovação do Ano", é uma resposta direta às incertezas da infraestrutura brasileira.
O PHEV é o ponto de equilíbrio, oferecendo a experiência elétrica com a segurança do motor a combustão. A produção local consolida o Brasil como um hub estratégico de engenharia, conferindo à marca uma vantagem logística e de custos sobre importadores puros.
Complementando o cenário premium, o Audi driving experience prova que o diferencial não está apenas no produto, mas na experiência. Cobrar R$ 6.490,00 para um dia de imersão com os 13 lançamentos (incluindo o recordista RS Q8 e a linha e-tron) é um custo de aquisição de cliente que se reverte em fidelização e brand awareness. É um movimento crucial para a Audi em um mercado onde a BMW é líder de vendas e a Mercedes-Benz tem forte presença.
Com preço a partir de R$ 144.900 na versão EX, o WR-V volta ao Brasil totalmente renovado e maior, assumindo-se como um SUV de verdade, e não mais um derivado do Fit.
Sua estratégia é clara: ser mais barato que o HR-V, mas oferecer mais espaço interno e um porta-malas de 458 litros, um dos maiores da categoria.
A Honda aposta na confiabilidade de seu motor 1.5 DI i-VTEC Flex de 126 cv e na transmissão CVT, além de um pacote completo de segurança com o Honda Sensing de série nas duas versões, o que o coloca em vantagem tecnológica de segurança ativa sobre rivais diretos como VW Nivus (que cobra mais pelos itens) e Fiat Pulse.
O WR-V compete diretamente com modelos de entrada como VW T-Cross, Nissan Kicks e Renault Kardian, tendo como principal trunfo a garantia de 6 anos de fábrica.
Finalmente, a chegada do Geely EX2, o carro mais vendido da China em 2025, aponta para a inevitável democratização da eletrificação.
A Geely entra no segmento de elétricos de entrada com a arma da economia de escala chinesa, prometendo um carro acessível focado na Economia Inteligente e recarga rápida, colocando pressão em todas as marcas que atuam no Brasil e forçando uma reavaliação de preços e tecnologias.
Mecânica Online® - Mecânica do jeito que você entende.
- I-Torque – Software de Inteligência Artificial (IA) desenvolvido pela Volvo para gerenciar o torque do caminhão em tempo real. Otimiza o desempenho e garante maior eficiência energética na queima de diesel.
- Honda Sensing – Pacote de tecnologias avançadas de segurança e assistência ao condutor da Honda, incluindo frenagem automática de emergência e Controle de Cruzeiro Adaptativo (ACC), que atua na prevenção de acidentes.
- TCO (Custo Total de Propriedade) – Métricas que calculam todos os custos diretos e indiretos associados à posse de um veículo ou ativo (aquisição, combustível, manutenção, depreciação) ao longo de sua vida útil.
- Híbrido Plug-in (PHEV) – Veículo que combina motor a combustão e elétrico, podendo ter a bateria recarregada em fontes externas. Oferece flexibilidade e maior autonomia no modo totalmente elétrico.
Opção de vídeo: https://youtu.be/7lnWmpg4ObE
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*Coluna Mecânica Online® com Tarcisio Dias – Aborda aspectos de manutenção, tecnologias e inovações mecânicas nos transportes em geral. Menção honrosa na categoria internet do 7º e 13º Prêmio SAE Brasil de Jornalismo, promovido pela Sociedade de Engenheiros da Mobilidade. Entre as mais Admiradas colunas Automotivas do Brasil em 2025. Distribuição gratuita nos dias 10, 20 e 30 de cada mês. https://mecanicaonline.com.br/category/engenharia/tarcisio_dias/